Lucélia
Muniz
Ubuntu
Notícias, 14 de maio de 2023
@luceliamuniz_09 @ubuntunoticias
Os naturalistas do século XIX, como Darwin e Alexander von Humboldt acreditavam no poder da imaginação e da curiosidade. Uma coisa não andava sem a outra. A curiosidade das leituras e das viagens, a curiosidade para sair de si mesmo e enxergar o outro: outros bichos, outras plantas, outros povos. A curiosidade que se fascina com a beleza natural, com os conhecimentos que as pessoas que vieram antes de nós podem ensinar. Darwin e Humboldt, do jeito deles, desconstruíram os preconceitos de seu tempo porque tinham coragem de pensar e conhecer. E quando os dados refutavam os preconceitos de sua sociedade, eram os primeiros a dizê-lo.
A curiosidade é irmã da imaginação, e é importante que elas andem sempre juntas. A imaginação não é um enfeite, um capricho. Tampouco é um delírio, porque está sempre acompanhada da curiosidade e do amor à verdade. A imaginação é a poesia dos olhos. O tecido da sensibilidade humana sobre as coisas. A imaginação sonha o mundo para poder conhecê-lo. É um afeto e um desejo de convívio. Sem a imaginação, o conhecimento perde a capacidade de ressensualizar o mundo. Torna-se árido e desinteressante.
Foi Humboldt – este cientista prussiano, inquieto, falante, encantado – o primeiro ocidental a compreender que o clima estava ligado ao solo, que animais, fungos e plantas coexistiam, e que a terra era algo vivo e dinâmico. Na verdade, Humboldt e Darwin foram os primeiros ecologistas ocidentais. Críticos ferrenhos do colonialismo e da escravidão, percebiam o quanto a ganância e a violência dos europeus degradava o solo, prejudicava os ciclos naturais que garantiam a coexistência entre as espécies.
Assim como naquele tempo, ainda hoje há uma luta a ser feita em
nome do conhecimento e da imaginação. Esta luta envolve aquilo que comemos e
onde nos enxergamos na trama da vida. Envolve nossa curiosidade e nossa
imaginação. Mais que nunca, precisamos combater a indiferença e o preconceito –
o futuro das espécies depende disso. Sem futuro não há presente. Sem o sonho,
não há casa.
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