18/12/2022

Hoje iremos conhecer a história do santanense, Rodrigo Gonçalves Duarte, aprovado no Doutorado em Educação em dois programas de pós graduação

Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 18 de dezembro de 2022

@luceliamuniz_09   @ubuntunoticias   @rodrigo_g_duarte

No sábado (17), o Rodrigo Gonçalves Duarte, natural de Santana do Cariri-CE/Distrito de Araporanga, entrou em contato comigo para compartilhar sua trajetória até a aprovação no Doutorado em Educação em dois programas de pós graduação, na federal do Mato Grosso do Sul e na Católica Dom Bosco de Campo Grande-MS.

O relato que segue foi escrito pelo Rodrigo Gonçalves Duarte

O amor pode até se acabar ...

Mas o que dele permanece são os frutos que irão ser árvores e com grandes raízes se aprofundarão por este mundo afora.

Meu saudoso pai Raimundo Alves (In memoriam)

Entre sonhos, tropeços e desafios a vida vai se construindo...

Sou Rodrigo Gonçalves Duarte, nasci de pais não alfabetizados, agricultores na região do Cariri cearense em uma pequena cidade chamada Santana do Cariri. Mas, minha infância foi toda no Distrito de Araporanga, onde até hoje a minha mãe e os meus irmãos residem.

É muito comum na região pessoas de mais idade não ter frequentado a escola, um dos grandes empecilhos era a falta de escolas e as poucas que tinham ficavam muito distante, e estas eram muito seletivas, ou seja, para famílias que tinha melhores condições financeira de manter vossos filhos em outras cidades.

Entrei na creche aos 3 anos de idade e ainda me lembro das minhas professoras. Confesso que eu era muito afetuoso por elas, e as mesmas retribuíam ao ponto de minha mãe ao invés de me deixar na creche, me deixava na casa delas e íamos juntos para a creche, era muito bom essa relação de afeto. Recordo do primeiro livro que li, A raposa e as uvas de Esopo, fábula esta, que tenho um carinho enorme.

Desde muito pequeno acompanhava a minha mãe e os meus dez irmãos para a roça e muita das vezes nem se quer tinha tempo de ir para a escola.

Para nós nordestinos não existe as quatros estações, somente duas. Inverno e verão. Sabemos que é inverno quando começa a chover, mas pense em uma alegria danada. É considerado verão, quando não chove. Lá se ia minha mãe no mês de novembro encoivarar e aplainar o terreno esperando ansiosa pela chuva para poder plantar. De janeiro a julho era bem difícil a gente frequentar a escola, pois precisaríamos ficar o dia inteiro na roça, somente os períodos de agosto a dezembro que era propício a frequência.

Me lembro dos suados abraços que a minha mãe nos dava, das correções quando estávamos agindo de maneira indisciplinada, principalmente quando íamos tomar banho no rio que ficava próximo da nossa casa.

Recordo das dificuldades que passávamos, muita das vezes passando até fome. Quanto a comida me lembro do famoso prato “capitão” que é o feijão amassado e misturado com farinha de mandioca, cuscuz com feijão e o angu com rapadura, conhecido em outras regiões brasileira como polenta.

Comer arroz era luxo, e comer macarrão era só em ocasiões quando minha mãe recebia a bolsa escola ou vendia parte da safra. Adorava comer na roça rapadura com farinha de mandioca e ao meio dia, o descanso embaixo das árvores na roça.

O que eu mais gostava no tempo em que eu estudava no ensino fundamental eram as rodas de leituras, os teatrinhos de fantoches na qual narrávamos contos e os passeios que as minhas professoras proporcionavam. E ainda hoje, o que mais gosto é de ler e contar contos.

Aos domingos para ajudar a minha mãe com um trocadinho, ficava o dia inteiro sendo vendedor na feira do distrito que morava. Vinha um senhor de um outro sítio a cerca de 15km de onde morávamos, montado em seu burro e trazia frutas para vender na feira (conhecido na região como seu Loro). Eu pegava um carrinho de mão, aqueles de construção civil, colocava as frutas dentro dele, e saia em porta em porta das casas oferecendo para as pessoas comprarem.

Certo dia, fui para a porta da igreja para aguardar as senhorinhas saírem da missa para comprar as frutas, e acabei ouvindo a homilia do padre, e aquilo me encantou de tal forma que cheguei em casa e falei para a minha mãe que queria ser padre.

Ingressei na igreja católica como coroinha e em pouco tempo fui para o seminário estudar para ser padre. Confesso que não foi um tempo fácil, tinha bastante defasagem nos estudos em decorrência da não frequência da escola. Foi um tempo desafiante, o tempo se passou, e em 2015 ingressei no curso de Filosofia no seminário São José na cidade do Crato-CE, fiquei pouco tempo, quando me mudei para a cidade de Jundiaí interior de São Paulo.

Depois, para dar continuidade aos estudos, fui morar em Curitiba-PR. No ano de 2018 acabei deixando o seminário e retornei para São Paulo, desta vez para a capital. Foi um início de um grande desafio, pois a minha realidade era religiosa e não tinha muito contato com outras realidades. Meu propósito de vida, ao chegar em São Paulo foi de continuar a estudar, o empecilho era buscar um emprego que conciliasse com o estudo.

Ingressei no curso de Pedagogia, cuja finalidade era fazer o estágio remunerado, pois conseguiria estudar e trabalhar. Ao mesmo tempo que cursava pedagogia, também fiz licenciatura em Filosofia, depois passei a trabalhar na diretoria de ensino da região do Campo Limpo na cidade de São Paulo. Após a conclusão dos cursos, ingressei no Mestrado da Universidade Cidade de São Paulo e está sendo muito desafiador e gratificante.

Desafiador pela temática em abordar um programa pela qual sou fruto, e este programa que mudou e continua mudando a vida educacional de bastantes cearenses, inclusive a minha cujo tema da minha pesquisa de mestrado é “A implementação do Mais Paic no Cariri cearense”, uma pesquisa qualitativa que abrange três municípios, Penaforte, Salitre e a minha cidade natal Santana do Cariri.

Neste intervalo de tempo acabei cursando 6 pós-graduações, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUCPR, Instituto Federal de Roraima-IFRO e Universidade Federal do Piauí- UFPI.

Surgindo a oportunidade de cursar mais uma graduação, conseguir ingressar em agosto de 2021 no curso de Ciências Sociais na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS, no Campus de Naviraí, região do Cone-sul do Mato Grosso do Sul, que fica a 358,5 da capital Campo Grande.

Por conta da pandemia, o curso teve que voltar a ser presencial, e em março deste ano, vim morar no Mato Grosso do Sul. Atualmente sou professor da rede estadual, e ao longo deste ano já publiquei diversos artigos científicos e dois livros.

Estou na reta final para defesa da minha dissertação de mestrado, e no começo de novembro fiz a inscrição para concorrer ao doutorado em Campo Grande no Programa de Pós-Graduação em Educação-PPGedu, cuja universidade é uma das melhores das universidades pública da região Centro-Oeste brasileiro.

Foram 5 etapas do processo seletivo, prova dissertativa de conhecimento especifico, prova de títulos, prova de língua estrangeira, análise do projeto de pesquisa e por última defesa do projeto de pesquisa, sendo que essa última tinha 20 minutos para falar do meu projeto e responder perguntas para um grupo de professores responsáveis pela comissão do processo seletivo do programa. Confesso que foi uma surpresa quando recebi o resultado. Fiquei em 1º lugar na linha de pesquisa: História, Política e Educação.

Ao mesmo tempo, também estava participando de um outro processo seletivo, este na Universidade Católica Dom Bosco-UCDB de Campo Grande, universidade super conceituada na região do Mato Grosso do Sul.

O processo seletivo foi da mesma forma que a UFMS, por etapas. Para a minha alegria, também recebi o resultado que fui aprovado. Ambos defendi o mesmo projeto, cuja temática é: A implementação do Novo Ensino Médio nas redes públicas de ensino brasileiro em contextos de vulnerabilidade social, onde pretendo fazer uma pesquisa qualitativa em três estados, Ceará, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

Quero deixar uma mensagem para todos, que nunca desista dos seus sonhos e que tudo é possível. Espero que após o doutorado, eu tenha uma oportunidade de cursar um pós-doutorado fora do país. Realizei um dos meus sonhos, em ser professor. Mas, o meu maior sonho é retornar para o Cariri, ficar ao lado da minha família e colocar em prática toda essa bagagem de conhecimento adquirida por estes lugares que estou passando.

Sou grato pela vida que tenho, e serei o eterno “menino do Cariri” como os meus professores me chamam carinhosamente, pelo qual tenho orgulho de ser chamado.

13 comentários:

  1. Parabéns meu irmão você é mais que merecedor tenho muito orgulho do homem que você se tornou. Que Deus abençoe sempre você. 👏🏻👏🏻 te amo 🥰❤

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  2. nossa , quanto orgulho de vc meu menino do cariri ...felicidade enorme ,deus te abençoe sempre e sucesso.

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  3. História digna de parabéns. Quase toda essa realidade eu também passei.

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  4. Uma linda história! Te desejo muito sucesso, mereces muito!

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  5. Uma linda história!! Mereces muito sucesso!!

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  6. Muito lindo esse relato deste professor Santanense e espero que Santana do Cariri seja a porta aberta pra ele.

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  7. Fico orgulhosa em conhecer sua historia e ter um conterraneo estudioso e tão inteligente. Continue assim...com esse seu jeitinho humilde.

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  8. Parabéns sucesso sempre

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  9. Parabéns. Você é um Guerreiro. Adorei sua história de vida.

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  10. Parabéns sua história e bem parecida com a minha só não tenho dez irmãos, porém o mais é muito idêntico!

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  11. Que história bacana !! Pra mim,a sua história de vida ,de perseverança,de luta pra realizar seus sonhos,é um incentivo pra quem está começando,é uma grande prova de que,apesar de todas as dificidades,a gente pode está,aonde a gente quer,só depende de nós!!Que Deus continue te abençoando!! Sucesso sempre meu conterrâneo! Parabéns!!👏👏👏👏

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  12. legal mesmo a historia deste jovem guerreiro, sendo de santana do cariri, minha terra, e minha esposa é de Araporanga, hoje agente mora em petrolina-pe

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  13. Parabéns e sucessos mil pra ti. Busque a vida que você sonha, mas não deixe de viver vida que você tem

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