Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 28 de julho de 2019
Por Adriano Sousa - Escritor
A essas horas Bárbara de Alencar se revira no
túmulo como que buscando uma saída para continuar dormindo tranquilamente. Mas
não há remédio... Essas horas os representantes da igreja, do
Estado, da ciência... Já tomam os seus automóveis munidos de pás, pincéis,
pinças, e outros equipamentos para violar o sono daquele que jamais deixou
dormir tranquilamente o imperador Pedro I.
O que diria José Martiniano de Alencar, seu
filho, na tribuna do senado, se fosse vivo? Que título daria José de Alencar,
seu neto, a esse romance da vida real? Que decreto presidencial baixaria
Tristão de Alencar, seu filho, governador do Ceará, a despeito desse assunto?
Como responderia a essa atitude o seu fiel escravo que foi capaz de cortar a
língua para não ousar revelar o esconderijo da Dona Bárbara?
Não sei...
Mas hoje o presidente do Instituto Cultural do
Cariri, Excelentíssimo Senhor Heitor dará conta do rosto de Dona Bárbara,
mistério que ninguém até hoje ousou desvendar... A mulher destemida que sempre
fez o que quis... Agora inerte nada pode fazer. Está a mercê da Igreja, do ICC,
do Estado. Aquiete-se Bárbara. O lenço que lhe cobriu o rosto até agora lhe
será tirado de uma vez por todas... A partir de pesquisa e estudos profundos
tendo como ponto de partida os seus ossos... Que ossos? São 187 anos que passaram
lentamente para quem está sendo degradado pela terra que tem dado conta até
mesmo dos "imortais".
Dona Bárbara de Alencar foi mulher a frente do
seu tempo em tudo o que pensou, fez e deixou de fazer. Quis a república quando
a monarquia ainda estava em alta. Quis a política e o clero porque sabia que
ali teria todo o apoio e refúgio das maiores influências da época. Não acredito
que ela tenha escolhido Itaguá para o repouso eterno por qualquer motivo
simples.
Eis que ela via em Itaguá a descendência do escravo
que cortou a própria língua para não entregar o esconderijo de sua dona. Itaguá
era o lugar ideal para dormir tranquilamente. Dona Bárbara sabia que mais cedo
ou mais tarde o seu nome seria lembrado; isso aconteceu mais cedo. Talvez até a
sua exumação fosse tentada, coisa muito comum na Igreja, altas madrugadas; isso
tentariam mais tarde.
Pois bem! Chegou a hora. Tentaram exumar o que
resta de Bárbara Pereira de Alencar... mas os seguidores do escravo fiel não
deixaram. Muito bem! Pelo tempo passado e as condições que se acredita
deitaram-na àquela época, já não se encontra mais nada... O resultado seria frustrante,
além de violarem o sono daquela que só há muito custo dormiu...
Independente de ter dado certo ou não, essa
proposta. Independente de eu, particularmente, apoiar essa causa ou não, quero
aqui deixar claro o meu respeito e minha admiração pelo Dr. Heitor Feitosa. A
ideia foi genial. A partir disso pode-se agora pensar em
preservar mais a história regional a fim de que possamos usufruir mais dela num
futuro em que possa existir o que hoje já é sonhado.
Ao Dr. Heitor Feitosa a minha admiração. A
ideia foi brilhante, a atitude, louvável. No caso Bárbara de Alencar, talvez
não desse certo. Mas pode dá certo nos próximos. Temos gente ainda muito importante
para a história. O Instituto Cultural do Cariri foi muito atuante quando decidiu
pela liderança de tão corajosa e competente equipe científica, religiosa e
histórica.
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