01/03/2018

Série Elas por Elas com Tayane Silva

Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 01 de março de 2018
*Tayane Silva, natural de Juazeiro do Norte-CE, reside em Natal-RN.
* Professora, Doutoranda em Antropologia Social.

Entrevista
Ubuntu Notícias - Dentro do contexto atual, na sua opinião, quais as principais conquistas alcançadas pelas mulheres?
Tayane Silva - O nosso contexto é fruto de negociações passadas. Não temos como elencar as conquistas de outrora se não olharmos um pouco para a nossa história. Essa história teve como marco os anos 70, período extremamente significativo para nós, mulheres. As reivindicações pelo direito ao voto, divórcio, educação, liberdade sexual, lutas sindicais nos tornaram o que somos hoje. No entanto, muita coisa precisa ser construída e modificada. Não temos como negar que hoje, as mulheres conseguiram, a longas penas, conquistar inúmeras coisas: hoje somos a maioria nas Universidades, nos cursos de qualificações, ocupamos vários lugares no mundo do trabalho. No entanto, isso não é demonstrativo de equidade, com todas as qualificações ainda continuamos ganhando menos que os homens. Hoje, fala-se em liberdade sexual, porém inúmeras mulheres ainda são apontadas na rua e taxadas como “vádias” pelo simples fato de exercer uma liberdade sexual igual à dos homens. Hoje, em pleno século XXI, os homens ainda conseguem decidir pelo direito reprodutivo das mulheres. Hoje, conseguimos não só ter direito ao voto, mas também ocupar cargos dentro da política. Todo modo, esses cargos políticos ocupados por mulheres ainda são minorias. Frente a isso, creio que as principais conquistas vivenciadas por nós mulheres fazem referência à política; educação e a liberdade de expressão. Essas conquistas, logicamente, não estão isentas de sacrifícios. Percebo que quando nós (mulheres) damos um passo à frente, a sociedade regride dois. Então, nós precisamos continuar lutando! Lutando por mais respeito (sem essa historinha que mulher precisa se dar o respeito. Ele é meu e pronto), precisamos lutar por maior dignidade na saúde (combatendo a brutalidade da violência obstétrica), precisamos lutar por mais independência, mais autonomia, e, sobretudo, mais consciência. É uma luta continuada e sem fim. Nós, mulheres, conquistamos muitas coisas, mas ainda há muito a ser conquistado. Dessa forma, seguimos desconstruindo os padrões que nos colocam sempre a margem, deixamos de ser coadjuvante para nos tornamos protagonistas de nossa própria história!         

Ubuntu Notícias - E você, qual sua principal conquista enquanto mulher?
Tayane Silva - Falar de nossas próprias experiências é sempre conflituoso, no mínimo. Eu sou fruto de uma história cheia de altos e baixos. Venho de uma infância escassa, onde precisei vencer muitas coisas. Meus pais foram agricultores e as condições financeiras eram bem complicadas. Creio que meu protagonismo enquanto mulher veio dessa infância sofrida, porém cheia de amor. Eu cresci vendo um exemplo de mulher, que é a minha mãe, ela é daquele tipo de pessoa que não se abate com as dificuldades da vida. Então, desde pequena eu aprendi na prática que mulher não é sexo frágil, passa longe disso. Sempre fui uma mulher de poses não tão delicadas assim, sempre soube muito bem o que eu queria, e, sobretudo o que eu não quero. Eu fui me construindo ao longo dos meus 20 e poucos anos. Desde a minha adolescência sempre quis me tornar uma mulher livre das amarras e condicionantes sociais, hoje, creio que estou conseguindo vencer dia após dia. Esse meu discurso politizado e essa minha militância está ligado à minha formação acadêmica, que interferiu diretamente na minha formação profissional e pessoal. Assim sendo, a minha maior conquista enquanto mulher foi me tornar uma pessoa politizada, conseguindo exercer uma postura de militância dentro da sociedade. Hoje, encorajo outras mulheres a se rebelar, e para ser sincera, isso me faz muito bem!

Ubuntu Notícias - Em pleno século XXI, quais situações ainda são enfrentadas pelas mulheres? Seja na questão de gênero, na falta de políticas públicas e/ou no contexto socioeconômico.
Tayane Silva - Medo! Essa é a situação mais vivenciadas por nós, mulheres. Temos medo de sair à noite, temos medo de vestir uma roupa qualquer, temos medo de ser violentadas, silenciadas. É assustador que as mulheres precisem pedir desculpas aos seus companheiros, quando os mesmos cometem qualquer atrocidade; é bizarro pensar que existe uma parcela significativa da sociedade que culpa a mulher em casos de violência, tendo como justificativa a roupa que ela usava; é ultrapassado a forma como a sociedade cria as mulheres para serem concorrentes (rivais). Tantas conquistas foram efetuadas, porém tantos desafios a vencer. Não é fácil ser mulher em um país que ocupa o 5º lugar no ranking de crime contra a mulher. As situações enfrentadas por nós são inúmeras: abusos, exploração, humilhações e etc. Temo por esses dados, temo por pensar que essas violências podem não serem silenciadas jamais, no entanto precisamos continuar lutando, por nós, pelos nossos filhos e filhas, por uma sociedade que renasça, sem medo! Quero ser livre para ser o que quiser. Quero ter o direito de ir e vir. Quero ter as mesmas oportunidades. Temos algumas políticas públicas que garantem o nosso direito, no entanto, muitas vezes não se tem uma aplicabilidade efetiva dessas leis. Um exemplo claro disso é a Lei Maria da Penha, inúmeras mulheres denunciam seus agressores e acabam por serem mortas. Precisamos melhorar a aplicabilidades dessas leis, precisamos garantir, sobretudo, o direito à vida!      

Ubuntu Notícias - E como a Educação pode ser usada como uma “arma” no combate a estas situações?
Tayane Silva - Sempre acreditei que a educação consegue mudar mundos e pessoas. Hoje vivemos em uma sociedade machista, onde desde crianças os nossos meninos e meninas são ensinados a perpetuar valores que oprimem as minorias sociais, e essa realidade só será modificada através da educação. Quando a sociedade se conscientizar da importância da igualdade, ou melhor dizendo da equidade, as coisas podem caminhar para rumos melhores. Precisamos levar o diálogo para as escolas, para as nossas casas, para o nosso ciclo de amigos. Através do momento que enfatizamos a importância da educação para melhorar as relações de gênero, nós estaremos progredindo. 

Ubuntu Notícias - Deixe-nos uma mensagem neste Dia Internacional da Mulher.
Tayane Silva - O dia Internacional da Mulher, não é uma data comemorativa. É um dia que devemos refletir as duras penas que as mulheres sofreram desde sempre, é uma data triste, pois para que nós (mulheres do século XXI) tenhamos algum direito, foi necessário que outras mulheres se sacrificassem por nós. Então, a mensagem que deixo para todas é que: nos libertemos! É preciso deixar para trás o medo de abandonar relacionamentos abusivos, é preciso ter coragem para lutar por nossos sonhos e desejos, é preciso dizer para a sociedade que não iremos nos calar frente as opressões de um sistema patriarcal. O que eu desejo para nós, nos 365 dias do ano, é coragem! Coragem para enfrentar os desafios que nos são postos todos os dias. Que a gente possa lutar por dias melhores, pois eles estão por vir!
Vida longa, há nós, MULHERES.
http://www.ubuntunoticiasce.com.br/2017/08/ubuntu-noticias-oferecimento.html

2 comentários:

  1. parabéns você é um exemplo para todas nós mulheres !

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  2. parabéns você serve de inspiração para todas nós mulheres!


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