Lucélia Muniz
Ubuntu Notícias, 19 de abril de 2019
Por Padre Ticão
Em
parceria com o Professor Waldir- Licenciado
em Filosofia e bacharelando em Teologia. Agente pastoral, escritor e assessor
de movimentos sociais
Via Carta Capital
Possamos nós atendermos ao chamado para abrir com destemor novos caminhos de esperança, liberdade, justiça e paz.
“…meu
espírito se alegra em Deus, meu
salvador […] porque o Todo-poderoso […]
realiza proezas com seu braço: dispersa os
soberbos de coração, derruba do trono os
poderosos e eleva os humildes; aos
famintos enche de bens e despede os ricos
de mãos vazias”.
Em meio à semana na qual a Igreja de todo o mundo celebra a Paixão,
Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, achamos por bem iniciar nossa mensagem
com Magnificat, o Cântico de Maria registrado no Evangelho de Lucas
(cap. 1, 47; 49; 51-53). E assim o fizemos, por entendermos serem palavras de
fé que nos encorajam, que nos impulsionam a seguir em frente sem medo e com
alegria.
Sem medo de gritar contra as injustiças praticadas pelos “poderosos” que
construíram – e constroem -, seus tronos à custa do sofrimento e da miséria
imposta ao povo trabalhador que se vê obrigado a submeter-se a condições de
trabalho desumanas em troca de um salário de fome.
Sem medo de dizer basta, chega de tanta tirania praticada contra os
menos favorecidos – sobretudo os mais jovens -, identificados cruelmente como
“os 4 Ps”: pobres, pretos, prostitutas e da periferia.
Sem medo de lutar contra a ganância dos grandes latifundiários do
agronegócio apoiados pelos órgãos governamentais, que insistem em tirar do
pequeno produtor o pouco que lhe resta no campo.
Sem medo de defender nossos irmãos índios, primeiros habitantes desta
“Terra de Santa Cruz” contra os ataques que sofrem por parte daqueles que
querem lhes tirar o pouco que lhes cabe da terra que sempre lhes pertenceu.
Sem medo de olhar fixamente nos olhos daqueles que querem transformar a
educação pública em formadora de “inocentes tranquilos” alheios à realidade que
o cerca e cegos em relação ao futuro que os espera, e dizer não! Nós queremos
uma educação libertadora e formadora de cidadãos e cidadãs conscientes.
Quem visse Jesus ao ser retirado da cruz, morto, esfolado, ensanguentado,
humilhado… não teria diante daquela imagem qualquer ânimo para continuar sua
jornada, sua missão. Até mesmo seus discípulos se esconderam com medo de serem
presos e submetidos ao mesmo “castigo”. E Jesus foi sepultado.
Porém:
No primeiro dia da semana, algumas mulheres foram
ao túmulo de Jesus e lá chegando encontraram a pedra da entrada removida.
Entraram no túmulo e não encontraram o corpo de Jesus. Nisso, dois homens
pararam ao lado delas e disseram: ”por que vocês estão procurando entre os
mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! (Evangelho de
Lucas, 24, 1,ss)
Da morte na Cruz, Jesus fez sua Páscoa para a vida gloriosa vencendo
todo sofrimento que lhe fora imposto. Sua ressurreição devolveu aos apóstolos e
demais seguidores o ânimo, a coragem e a alegria a ponto de fazê-los retomar,
sem medo e cheios de alegria a missão que lhes fora confiada. Aquela pequena
comunidade de pescadores levou a boa nova a todos os lugares que puderam
alcançar. E a obra se fez.
Do mesmo modo, possamos nós atendermos ao chamado para abrir com
destemor novos caminhos de esperança, liberdade, justiça e paz onde os
“poderosos senhores do capital” insistem em disseminar a mentira, a violência,
o ódio e o medo.
Parafraseando um sábio amigo Dominicano: “Que em resposta à
ressurreição de Jesus, nós possamos transformar a impaciência em rebeldia, o
individualismo em fraternidade, o latifúndio em terra de todos e todas, a
monocultura que esteriliza em agroecologia que fecunda, para manifestar o Reino
de Deus que está entre nós”. (Frei José Fernandes Alves)
Que todos nós, do mais jovem ao mais idoso, sejamos renovados na fé, na
esperança e no amor para unidos em torno do Cristo Ressuscitado – vencedor da
morte, da opressão, da tirania e das injustiças -, seguirmos a passos largos
semeando o amor e a paz onde os “poderosos opressores” de hoje insistem em
semear a violência, a tristeza, o medo e a desesperança.
Feliz e Santa Páscoa!
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