15/08/2017

Autodisciplina e Indisciplina na sala de aula e na vida


Já ouviu falar em autodisciplina? O que é indisciplina para você? O que torna um aluno indisciplinado?

Estas questões são mais amplas que supomos, e sua discussão já foi assunto de muitos teóricos e filósofos da educação, porém sua solução envolve conceitos simples de autodisciplina, ou governo de si mesmo.
Mas o que é a autodisciplina?
Conforme o dicionário:
1. ato ou efeito de autodisciplinar-se.
2. capacidade de se impor disciplina.
É a capacidade de autogovernar-se no que refere-se as suas emoções, dominá-las visando alcançar um objetivo maior.

Quando pensamos em “ indisciplina na escola” logo vem à nossa mente aquela criança inquieta, agitada, que recusa-se a fazer algo que NÓS queremos.
E quando pensamos em “ disciplina” o que vem a nossa mente? O oposto: uma criança ou um jovem sentado, quietinho, concentrado no que NÓS queremos que ele faça.
Nos dois casos vemos a disciplina ou indisciplina como algo externo à pessoa, sempre atrelado ao ambiente que a cerca. Muitas vezes acreditamos que a disciplina tem a ver com o ambiente e por esta razão, achamos que basta organizar o meio ambiente para que a disciplina ocorra.
Isso é um erro! Pois enquanto os ambientes são controláveis, as pessoas que estão nele não são. Não cabe a NÓS controlá-las, mas ensiná-las a ter autogoverno de si mesmas.

O Autogoverno é uma regulação interna que precisamos ter de nós mesmos e das nossas emoções.  Não podemos nos deixar ser guiados por nossas emoções pois isso nos torna vulneráveis aos revezes das situações e circunstâncias.
Sem a autodisciplina ficamos à deriva das circunstâncias, pois nossas emoções são “burras”, sem medida ou limites. As emoções não medem causa e consequências pois quem faz isso é a razão.

Para que venhamos a desenvolver a autodisciplina devemos trabalhar o conceito de causa/consequência, os resultados que esperamos alcançar e isso nos conduz a outros tipos de comportamentos e sentimentos. Ficamos mais centrados e o ambiente não tem mais força para nos tirar do eixo.

A autodisciplina é algo que pode, e deve, ser aprendido, mas para isso a criança ou o jovem devem ser ajudados a superar as frustrações, a controlar ímpetos egoístas e imediatistas de ter algo a qualquer custo e a qualquer hora.

Neste sentido, no lugar do imediatismo e descontrole emocional que acaba resvalando na dita “ indisciplina”, deve ser almejado desenvolver e nutrir a resiliência que devemos ter frente a vida e as situações que nos serão apresentadas no dia a dia.
Infelizmente as crianças e os jovens de hoje estão crescendo com graves aleijões emocionais, deformados no seu autogoverno, pequenos na sua resiliência, pois são incapazes de gerir a própria vida e tornarem-se pessoas completas. Aleijões emocionais tornam-se ao longo da vida aleijões sociais.

Sofremos na sala de aula quando recebemos crianças e jovens sem senso de autogoverno ou autodisciplina. Geralmente as famílias acham que a criança desenvolverá isso sozinha e a deixa à mercê do próprio ambiente que cuidará desta questão, outras vezes a família está contribuindo para que estas situações sejam potencializadas, pois em muitos casos a própria família é o problema e na falta de um modelo saudável a criança ou o jovem tem como modelo uma família disfuncional.

Boa parte das crianças e jovens que chegam até nossas salas de aula não sabem o que é ser resiliente ou ter o governo de si mesmas. Cabe a nós, Educadores ajudá-las em fornecer os elementos, estratégias e recursos para que esses jovens desenvolvam e sejam estimulados a crescer enquanto pessoas completas por meio do conhecimento e autodisciplina de suas emoções.

A Autodisciplina na Escola:
Autodisciplina e Trabalho em Grupo
Propiciar trabalhos em grupos é uma boa alternativa para desenvolver e estimular a autodisciplina, já que em um grupo há regras sociais que precisam ser respeitadas. Como é intrínseco para o ser humano a busca da aceitação do outro, o fato de estar em um grupo possibilita que certas regras sejam internalizadas e haja um domínio das emoções e mudanças de comportamentos.

Autodisciplina e organização da rotina de tarefas
O Professor pode contribuir, e muito, para o desenvolvimento da autodisciplina dos alunos quando organiza uma rotina de tarefas a serem executadas naquele dia. Isso propicia um senso de começo, meio e fim e portanto, evita que haja stress por parte dos alunos por não saberem o que os espera. Quando conhecemos o que está por vir fica mais fácil praticar a autodisciplina.

Autodisciplina na transição das aulas
O caos de toda escola ocorre, geralmente, na transição das aulas. Esses momentos seriam facilmente equacionados se todos os alunos tivessem autodisciplina de suas emoções, e portanto, apresentariam comportamentos diferentes dos que vemos atualmente. Então que tal organizar este momento de transição propondo aos alunos tarefas a serem executadas na transição? Por exemplo: sempre que ocorrer a transição o Professor que está saindo deixa uma tarefa para a sala realizar até a chegada do próximo Professor.
Exemplo de Tarefa:
– organizar as carteiras em semicírculo;
– quando chegar a próxima transição a organização das carteiras será dois a dois;
– quando o próximo chegar a organização das carteiras será em fileira, etc.
Ou seja, cada Professor que sair deixa uma tarefa para a chegada do próximo. No exemplo acima, a tarefa envolvia a arrumação de carteiras, mas você pode escolher outra tarefa que toda a sala pode realizar em poucos minutos, evitando assim a bagunça nos corredores e  reforçando responsabilidades para todo o grupo.

Características da autodisciplina
Ter autodisciplina, ou auxiliar nossos alunos a desenvolvê-la não é uma tarefa fácil e nem rápida. Por isso procure desenvolver as características abaixo, pois elas irão te levar mais perto de alcançar a autodisciplina ou o governo de si mesma:
Aceitação: Aceitar que você é um ser humano em construção e que portanto, precisa de direção, ser guiado, senão a todo instante você será lançado em várias direções que serão opostas aos objetivos que você precisa atingir. Por isso preste atenção às coisas que estão tirando você do caminho.
Força de Vontade: A força de vontade é algo que retiramos de um objetivo maior nas nossas vidas. Um projeto, um sonho, uma meta. Os motivos do porquê lutamos ou perseguimos algo é o que nos motiva a ir em frente.  Procure buscar de onde você retirará esta motivação para perseverar.
Esforço: Quando caminhamos em busca de algo precisamos colocar a nossa vontade ao nosso serviço, e esta ação nos leva a dirigir nossos esforços de maneira mais focada. Pessoas que tem autodisciplina esforçam-se mais. Preguiça e procrastinação não fazem parte do vocabulário.
Diligência: Ser aplicado, cuidadoso e estar pronto para realizar algo é uma das características das pessoas que tem autodisciplina.
Persistência:  Sabe quando aparece aquela vontade de desistir e jogar tudo para o alto? Pois é neste momento que precisamos de uma carga EXTRA de vontade, EXTRA de esforço, EXTRA de diligência.
 Essa carga extra é a persistência. Instile isso em você. Pois pessoas com autodisciplina sempre atingem as suas metas e objetivos porque PERSISTEM. Podem até cair, mas levantam-se e começam tudo de novo se for preciso.

Então, se você enquanto Professor ainda não é uma pessoa autodisciplinada, que estas orientações possam lhe ajudar a desenvolver estas características, pois só assim você poderá ajudar também os seus alunos a terem autodisciplina.
Quem ganha com tudo isso?  VOCÊ, VOCÊ e VOCÊ.

Roseli Brito
Pedagoga - Psicopedagoga - Neuroeducadora e Coach

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