28/04/2022

A relação entre a Ancestralidade e as plantas medicinais | NOVA OLINDA-CE

Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 28 de abril de 2022

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Na segunda-feira (25), fizemos uma aula de campo com uma visita a Fundação Casa Grande/Memorial do Homem Kariri em Nova Olinda-CE. A aula se deu como complemento ao conteúdo ministrado na Eletiva Medicina Popular da EEMTI Padre Luís Filgueiras da mesma localidade na qual sou professora.

Na fundação existe um restaurante e os contratei para receber os estudantes da minha eletiva com chá de erva-cidreira¹ e bolo de fubá² de milho com erva-doce³. Quero agradecer a Senhora Meirivan Rodrigues que preparou este delicioso lanche. Desde o chá e o bolo servido e degustado, a aula se seguiu ampliando o nosso conhecimento na visita ao memorial da fundação.

Quem nos recebeu e ministrou a aula no memorial foi a Mestra em Arqueologia Heloísa Bitú. A mesma organizou sua fala a cerca da ancestralidade e o uso das ervas medicinais por estes. Começou falando da Nação Indígena Kariri e de como os nossos ancestrais se organizavam seguindo o curso dos rios em locais de biodiversidade e eram nômades.

Estes eram caçadores e coletores em contato com as espécies e propriedades medicinais das plantas. Para os indígenas, o pajé, era o curandeiro que detinha o conhecimento das plantas medicinais relacionadas a sua crença.

Dentre os mais diversos tipos de plantas medicinais há o uso destas das mais variadas formas com a exemplo dos chás e emplastos. Na arte rupestre existem registros de plantas utilizadas em cultos, sejam folhas e ramos, muitas ainda não decifradas/identificadas.

As plantas medicinais eram também usadas como beberagens fermentadas, o cauim, feito à base de mandioca com composição alcóolica, usado em rituais espirituais e de cura, por exemplo.

Outro exemplo é a jurema preta que tem propriedades alucinógenas e era ingerida como chá. Os nossos ancestrais utilizavam este tipo de planta em rituais para entrar em contato com as divindades. Geralmente quem detinha este conhecimento eram as mulheres, responsáveis também pelo cultivo e prática da agricultura.

Na Sala de Arte Rupestre do Memorial aprendemos que existem mais de 35 sítios arqueológicos com artes rupestres cadastrados aqui no Cariri. Estas pinturas seriam ritualísticas e de comunicação feitas com tintas à base de vegetais.

A tribo indígena local era composta pelo povo Kariri Kariu homenageado no centro da sala principal do memorial com uma imagem em madeira de um indígena chamado Kariuzinho.

Sobre a etnia Indígena Kariri (peixe saído da água) que habitou o território Cariri este ainda dá o primeiro nome desta localidade como aldeia da água saída do mato – e também a denominação do rio que corta o município – rio Cariús (água saída do mato).

O prédio da sede da Fundação Casa Grande data como sendo a primeira edificação de Nova Olinda. Já a fundação do memorial data do ano de 1992 e este ano completa 30 anos.

Informações complementares

¹A erva-cidreira é a planta medicinal Melissa officinalis, também conhecida como cidreira ou melissa, que é rica em compostos fenólicos e flavonóides com propriedades calmantes, sedativas, relaxantes, antiespasmódicas, analgésicas, anti-inflamatórias e antioxidantes, sendo muito utilizada para tratar vários problemas de saúde, especialmente problemas digestivos, de ansiedade e estresse.

²O fubá é uma farinha de milho fina e excelente para a produção de bolos e outros pratos, sendo que era uma farinha muito mais comum no Brasil colônia, onde não havia plantações de trigo por aqui, além do alto custo da importação da farinha de trigo de Portugal. Sendo assim, ele veio como uma alternativa para uma farinha muito mais cara. Além disso, não existe um Estado que consiga afirmar-se como o “criador do bolo de fubá”. Como a receita era muito comum entre os tropeiros e os mascates da época, ela acabou se popularizando por todo o país, sendo bem comum em áreas interioranas e por isso muito associada às quermesses e festas de São João.

³A erva-doce é uma planta medicinal rica em flavonoides, ácido málico e cafeico, compostos bioativos com propriedades digestivas, laxativas, carminativas e espasmolíticas, sendo, por isso, indicada para aliviar gases, náuseas, prisão de ventre, cólicas e má digestão.

2 comentários:

  1. Uma vivência de grande relevância, as práticas voltadas para plantas medicinais devem ser fomentadas e implantadas em salas de aula como está evidenciado nesta ação. É de grande importância o
    repasse desse conhecimento entre as gerações para que essa prática se perpetue e deve ser cada vez mais incentivado.

    Aurea Soares

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  2. Gratidão pelo comentário Aurea! Um abraço!

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