Por
Nós somos a soma do que falamos,
do modo como agimos, da maneira como tocamos uns aos outros. Mas também
somos a soma de nossas emoções, pensamentos, alegrias guardadas
e angústias não declaradas. Ninguém sabe ao certo o que vai dentro do
coração do outro. Ninguém tem a mínima noção dos fantasmas que assombram, da
bagagem que carrega, das alegrias e saudades que abriga, das batalhas que trava,
dos silêncios que suporta, das vitórias que celebra.
Porém, muita gente se acha apto
para julgar o caminho alheio. Muita gente se considera assertivo para condenar
as escolhas de terceiros. Mas a verdade é que ninguém conhece por inteiro as
batalhas que travo intimamente. Ninguém percorreu meu caminho com meus sapatos
para saber onde apertam os meus calos. E por mais que imaginem conhecer,
alguns passos dessa dança são só meus; e por mais que desejem ajudar, algumas
pontes só eu posso atravessar.
Precisamos uns dos outros.
Precisamos do olhar do outro que nos apoia silenciosamente ou nos faz recuar
diante da gravidade das coisas e do mundo. Porém, não precisamos de juízes. Não
precisamos de magistrados que decidem o modo como devemos viver ou habitar
nossa própria história.
Cada um sabe o que carrega na
bagagem. Cada um sabe de suas lutas íntimas e vitórias silenciosas. Cada um
sabe onde seu sapato aperta, machuca, causa bolhas. Cada um sabe a hora de
descalçar ou continuar. Cada um conhece seus limites, a necessidade de
preservar a própria essência, a necessidade de ser coerente com seu coração.
Então não é justo que alguém que nunca carregou aquela bagagem nem nunca calçou
aqueles sapatos ache-se no direito de bater o martelo, intimar, condenar
ou especular qualquer caminho ou escolha.
É preciso coragem
para trilhar nossa história com coerência e autenticidade. Coragem para
romper com aquilo que esperam de nós em contrapartida ao que queremos de
fato. É preciso valentia para optar pelo amor próprio, pela honestidade. É
preciso valentia para crescer e assumir nossos erros, incompletudes, abismos e
asperezas do mesmo modo que nos orgulhamos de nossa doçura, leveza e capacidade
de amar.
“Quando alguém julgar o seu
caminho, empreste a ele os seus sapatos”. Só você sabe como chegou até aqui. Só
você entende as batalhas e triunfos silenciosos que fizeram parte do seu
caminho. E por mais que estejam junto de você, algumas pessoas
simplesmente não entendem. E cobram por aquilo que não conhecem; julgam por aquilo
que não experimentam. Talvez devessem olhar melhor para as próprias vidas, e se
perguntar por que se incomodam tanto. Talvez devessem ser mais tolerantes
consigo mesmos, afrouxando os cadarços de seus próprios calçados.
Já me deparei com erros pequenos
ou grandiosos de pessoas que eu amo. Já escutei mentiras e acreditei nelas. Já
me feri com atitudes que desviavam daquilo que eu acredito mas sobrevivi. Às
vezes as pessoas optam por um caminho que irá nos ferir, mas isso tem muito
mais a ver com a vida delas do que com a nossa.
Então não cabe a nenhum de nós
apontar o dedo. Não cabe a nenhum de nós expor o outro ao nosso julgamento,
muitas vezes imparcial, já que somos “as vítimas”. Cabe sim ajudarmos a
construir uma pessoa melhor, com amor, tolerância às diferenças, perdão e
aceitação. Ninguém está livre de erros e, principalmente, ninguém sabe ao certo
onde o sapato do outro aperta…
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