27/01/2021

Origem do povo nova-olindense: Livro “Kariu – A Cultura de um Povo Guerreiro” | LEITURA

Lucélia Muniz

Ubuntu Notícias, 27 de janeiro de 2021

@luceliamuniz_09 @ubuntunoticias @agenciaclick__

“Existe, porém entre estas entranhas desse torrão, uma memória daquela comunidade primitiva, nascida na mata, cuja origem se perde na história e avança na essência de todo nova-olindense (...)”. [Trecho do Livro “Kariu – A Cultura de um Povo Guerreiro”]  

Ano passado quando estive na residência da Mestra Angelina Umbelina para gravar para uma das edições do Ubuntu Notícias fui apresentada ao Livro “Kariu – A Cultura de um Povo Guerreiro” publicado no ano de 2010. Esta obra é de autoria de Angelina Umbelina da Silva, nossa Mestra Angelina, e de Antony Frank Alves Nunes. A mesma deixou comigo um exemplar para leitura que posteriormente me presentou.

Na ocasião disse a mesma que faria a divulgação deste livro como forma de compartilhar com vocês uma pesquisa, organizada em 152 páginas, que resultou num registro histórico de nosso município, Nova Olinda-CE, e sabemos da importância destes registros na preservação da nossa história e da nossa cultura.

Como diz no prefácio da obra – “A história das expressões culturais nova-olindenses como herança da arte e dos costumes das tribos que dominavam essas terras”.

Na apresentação da obra, os autores, destacam a importância da identidade cultural do povo caririense entendida através de alguns aspectos histórico-sociais, questionando se a nossa descendência é indígena, em face da descendência Cariú ou não, assim como grande parte da população brasileira também não conhece sua origem.

Os autores, Angelina e Antony Frank, dedicaram o livro a memória da saudosa Francy Teles, uma das principais apoiadoras na realização da obra. Antonia Teles Barbosa mais conhecida como Francy Teles é Patrona da Cadeira 17 assento da acadêmica Luciana Muniz da França na Academia de Letras do Brasil/Seccional Regional Araripe-CE, uma das representantes do município de Nova Olinda.

“Este trabalho destina-se ao artesanato da cidade, à cultura e à educação. Especialmente dedicado a Francy Teles, nossa primeira patrocinadora e que muito apoia as manifestações culturais de nosso município, a ela desejamos feliz descanso”. [trecho do livro, pág. 149]

O sumário do livro referenciou nossas origens da análise das nossas raízes culturais, dos costumes e da religiosidade, das expressões artísticas, folclóricas e culturais de Nova Olinda-CE, bem como da contemporaneidade cultural.

A obra é uma análise em resumo de um trabalho de pesquisa desenvolvido através de depoimentos e entrevistas na obtenção de dados capazes de promover o estudo cultural da história do homem Cariri e de sua antropologia, principalmente o indivíduo que viveu em Nova Olinda-CE.

Quanto aos objetivos da obra, os autores, destacam que para um povo conhecer a sua história é necessário alguém que conte, para que alguém a conte é preciso que um outro alguém o escute, e para que esse outro alguém escute é necessário que alguém detenha um certo conhecimento de sua realidade e de suas origens.

Sobre a abordagem no que tange a nossa origem histórica são citadas algumas fontes, dentre estas, as pinturas rupestres, a exemplo das inscrições encontradas em um vale localizado no distrito de Santa Fé em Crato-CE, adotada como símbolo da Fundação Casa Grande de Nova Olinda-CE.

“A aldeia que hoje é a cidade de Nova Olinda era chamada de aldeia da água saída do mato, referindo-se às fontes de água natural que jorravam a partir da Serra do Zabelê e se estendiam até a entrada da cidade, passando pela gruta da mãe d’água indo em direção ao Rio Cariús”. [trecho do livro, pág. 28]

Em outro trecho do livro, pág. 49, faz-se um relato histórico cultural tendo o seguinte enfoque:

“Entre Nova Olinda e Santana existe a maior reserva de fosseis do período cretáceo, com fosseis de até 150 milhões de anos. Esse local abrigou a tribo Kariri Kariú, sendo possivelmente o primeiro registro da ocupação organizada no local que hoje conhecemos como município de Nova Olinda no Estado do Ceará (...)”.

“(...) de uma forma humilde e despudorada de ciência, a história de Nova Olinda era transmitida aos seus descendentes, dos primeiros moradores da cidade com registro de nascimento em 1913 até os dias atuais. Conhecimentos guardados na memória daqueles que a viram crescer para o que é hoje”. [trecho do livro, pág. 53]

Conhecer a nossa origem, conforme as observações dos autores da obra, foi desempenhar esforços tendo como ponto de partida as crenças e a religiosidade, principalmente as transmitidas pelos índios que habitaram o nosso município antes do mesmo se tornar a chamada Tapera da água saída do mato.

Uma história que sobreviveu pela oralidade do nosso povo, sendo transmitida de geração a geração. A construção desta obra foi pautada no depoimento de 360 entrevistados, coletados no ano de 2006, registrados em vídeo, e ao longo da pesquisa também foi elaborado o mapa cultural de nosso município.

Outro ponto do livro que me chamou a atenção foi a seguinte afirmação: “Pior que ser enterrado em corpo, é ser enterrado em cultura (...)”. Os autores chamam a atenção para a importância do fato de conhecermos as nossas origens, nossos antepassados, costumes, cultos, culinária, dentre outros aspectos relevantes na construção do conhecimento sobre a nossa Cultura e História.

“Pessoas de origem indígena que não sabiam que os trisavós eram índios, talvez a quinta geração perdida para a cultura, corrompida entre muitas faces pela imposição cultural ou religiosa, dessa forma o índio foi expulso de si mesmo”. [trecho do livro, pág. 105]

“Percebe-se que a cultura nova-olindense foi se adaptando fortemente aos costumes de épocas, e com elas vai desaparecendo conforme a evolução dos sistemas sociais cada vez mais informatizados, bem distantes do corpo a corpo e das expressões naturais de que foram germinadas”. [trecho do livro, pág. 121]

No último capítulo do livro, os autores, fazem uma reflexão sobre a quantidade de organizações sociais constituídas em nosso município e fazem uma analogia com a expressão “retorno às tribos” onde os indivíduos estão unidos por um ideal que não pertence mais a um só, mas a necessidade da coletividade em busca dos ideais e bem-estar social de todos.

Ao terminar a leitura estou plena como se estivesse embarcado em uma cápsula do tempo e respirado e visto pelo menos 100 anos de história. Aos autores meus agradecimentos e parabéns pelo registro histórico, social e cultural da nossa gente, do nosso povo. Com vocês compartilho desse conhecimento nesta “Tribo Ubuntu” que assim como muitas “tribos” de nosso município continua a fazer a história e a cultura de nosso município. Gratidão!  

2 comentários:

  1. Que maravilha! Sempre muito enriquecedor nos apropriarmos das narrativas acerca da nossa origem, do nosso povo, da nossa cultura. Já desejo ter acesso a esta obra.

    ResponderExcluir
  2. Olha João Lucian,
    Eu estou maravilhada com a leitura! Foi muito enriquecedor para mim!

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário mais seu nome completo e localidade! Sua interação é muito importante!